sábado, 10 de março de 2012

Entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Domingo de Ramos)

O Profeta Balaão e o Jumento nosso Irmão

 
Certo jornalista estúpido afirmou que um texto não presta quando obriga o leitor a consultar um dicionário. Tudo bem. Às vezes é preciso concordar com a estupidez. Dicionários também contêm disparates. A maioria deles, senão todos, dão à palavra “jumento” o significado de “indivíduo sem inteligência”. Que injustiça. O jumento é um animal santo. Montado num jumento, Cristo entrou na cidade de Jerusalém. Um jumento, ou melhor, uma jumenta salvou a vida do profeta Balaão. O episódio, como de costume, está na bíblia. No livro dos números. Capítulo 22. A história passa pelo pavor do povo moabita, governado por um poltrão, Balaque, filho de Zipor (os nomes bíblicos são escatológicos). Diz o quarto livro do pentateuco que Balaque, tendo conhecimento da fragorosa derrota que os judeus haviam imposto aos amorreus, resolveu contratar o profeta Balaão para amaldiçoar Israel.
Balaão, após uma inicial recalcitrância, aceitou a proposta, montou na jumenta e encaminhou-se ao acampamento judaico para fazer a bruxaria. No caminho, contudo, um anjo, de espada em punho, surgiu para matá-lo. Esse anjo houvera sido enviado pela divindade, que jamais admitiria que seu povo sucumbisse diante de uma nação apóstata. Sucede que Balaão não pôde ver o anjo. Mas a jumenta viu. Até nisso os jumentos são melhores do que os homens: enxergam mais. Daí, como a jumenta parou assustada, Balaão começou a espancá-la. Conseqüentemente, e diante de tamanha injustiça com a jeguinha, Deus fez como que ela falasse. Falou. E falou para repreender Balaão. Nisso também os jumentos são melhores do que os homens: na capacidade de dar conselhos. Balaão, incrivelmente, foi persuadido pela jumenta a não seguir; do contrário, morreria nas mãos do anjo.
Ora, na bíblia uma jumenta persuadiu um profeta. Como seria bom se a jumenta de Balaão ainda estivesse viva para dar aula de direito eleitoral a alguns políticos sergipanos. Não bastou o artigo da semana passada. E-mails, recados e telefonemas empaturraram a paciência deste sofrido articulista: um jumento. “Você está errado. Edvaldo, no primeiro mandato, substituiu Déda. Logo, ele não pode ser candidato em outubro”. Santa jumentalidade, como escrevera Otto Lara Resende, em 6 de abril de 1992, para a Folha de São Paulo. Obrigaram-me a retomar o tema. Obrigaram-me, ademais, a pesquisar a vida do Pe. Antônio Vieira. Não a do português, mas a do cearense. Aquele que nasceu em Várzea Alegre (Cariri). O sacerdote foi um dos maiores defensores do jumento. Pugnava pelo fim da sua matança, diante da sacralidade do animalzinho. Sua obra principal é “O jumento nosso irmão”, de 1964.
Mas o padre não parou por aí. Fundou o clube mundial dos jumentos. Para adquirir a carteirinha de sócio, explica Otto, o indivíduo deveria “reconhecer a própria burrice”. A evolução seria natural. Admitido na confraria, o novo associado faria um juramento: “até ontem fui burro; a partir de hoje, sou jumento”. O ianque William Teasdale chegou a traduzir a obra do padre para o inglês: “The donkey, our brother”. Mas para assimilar que Edvaldo pode ser candidato, não será necessário ler nenhum texto em inglês. Basta saber português, ainda que sem dicionário. Afinal de contas, não é preciso exigir tanto. O título não é de doutor, mas de jumento. Mãos à obra. Imagine o leitor que está no ano de 2002. Não faz muito tempo. 10 de setembro. Sala das sessões do TSE. Ali estão Nelson Jobim, Sepúlveda Pertence, Ellen Gracie, Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro, Luiz Carlos Madeira e Caputo Bastos.
Em julgamento: recurso especial eleitoral nº 19.939/SP (caso “Geraldo Alckmin”). As coligações “São Paulo quer mudanças” e “resolve São Paulo” pretextavam “que o Sr. Geraldo Alckmin é inelegível para um terceiro mandato, a teor do art. 14, § 5º, da CF, uma vez que foi eleito por duas vezes consecutivas vice-governador de São Paulo, tendo substituído o titular do executivo no primeiro mandato e, por fim, o sucedido no segundo, em virtude de seu falecimento”. Situação idêntica à de Edvaldo, salvo por duas arestas. Em primeiro lugar, Edvaldo foi eleito duas vezes vice-prefeito, e não vice-governador; em segundo, Edvaldo sucedeu Déda, no segundo mandato, não porque este tenha morrido, mas porque renunciou para ser governador, isto é, está mais vivo do que nunca. No mais, é tudo igual: substituição no primeiro mandato e sucessão no segundo. Assim, o que decidiu, por unanimidade, o TSE?
A corte, sem qualquer reticência, definiu que “havendo o vice – reeleito ou não – sucedido o titular, poderá se candidatar à reeleição, como titular, por um único mandato subseqüente (Res./TSE nº 21.026)”. Além disso, a relatora, ministra Ellen Gracie, atual presidenta do STF, destacou que “conforme ressaltado pelo eminente ministro Sepúlveda Pertence, na consulta nº 689, o preceito insculpido no art. 14, § 5º, da CF é de redação infeliz quando trata de quem ‘houver sucedido ou substituído, no curso do mandato’ o titular do executivo”. “Naquela oportunidade”, prossegue a relatora, “ficou estabelecido que o instituto da reeleição não pode ser negado a quem só precariamente tenha substituído o titular no curso do mandato, pois o vice não exerce o governo em sua plenitude. A reeleição deve ser interpretada strictu sensu, significando eleição para o mesmo cargo”.
“O exercício da titularidade do cargo, por sua vez”, arremata a ministra, “somente se dá mediante eleição ou, ainda, por sucessão. O importante é que este seja o seu primeiro mandato como titular, como de fato o é, no caso do Sr. Geraldo Alckmin. Conforme destacado pelo ministro Fernando Neves, ‘o fato de estar em seu segundo mandato de vice é irrelevante, pois sua reeleição se deu como tal, isto é, ao cargo de vice’ (CTA 689)”. Alguém ainda vai questionar? Edvaldo, assim como Alckmin, foi duas vezes eleito vice, substituiu o titular no primeiro mandato e o sucedeu no segundo. Edvaldo, assim como Alckmin, pode ser candidato ao cargo principal, pois, só agora, está exercendo esse cargo em sua plenitude. No mais, é pura jumentalidade, ou melhor, burrice. Não é lícito, numa situação de brutal clareza acadêmica, ofender o jumento. O jumento e sábio. O jumento já percebeu que Edvaldo pode ser candidato.
Não se sabe, por outro lado, o que falar do burro, espírito menos evoluído, espécie ancestral, estado arquetípico outorgado àqueles que ainda não fizeram o juramento dos sócios honorários do clube internacional do jumento. Superado o imbróglio, ficam todos os que achavam que Edvaldo não podia ser candidato convidados a se associarem com rapidez. Não é necessário saber inglês e, tampouco, latim, língua em que vai impresso o certificado. O clube já tem até hino. Letra e música de Luiz Gonzaga: “é verdade, meu senhor/ essa história do sertão/ padre Vieira falou/que o jumento é nosso irmão/ a vida desse animal/ padre Vieira escreveu/ mas na pia batismal/ ninguém sabe o nome seu/ bagre, bó, rodó ou jegue/ babau, brechó ou Lopeu**/ andaluz ou marca-hora/ breguedé ou azulão/ alicate e berimbau/ inspetor de quarteirão/ tudo isso, minha gente/ é o jumento nosso irmão”.
* Publicado no Jornal da Cidade, Aracaju-SE, edição de domingo e segunda-feira, 10 e 11 de fevereiro de 2008, Caderno B. pág. 9.
** Segundo GUSTAVO BARROSO a origem do nome LOPEU vem da Guerra do Paraguai. Os soldados cearenses, com raiva do ditador paraguaio Solano Lopez, apelidaram o jumento de LOPEU.

sexta-feira, 9 de março de 2012

O MASSACRE DO JUMENTO NORDESTINO

JEGUE NORDESTINO SERÁ TIRA-GOSTO DE CHINÊS


Chineses querem exportar 300 mil jegues por ano
Da Agência O Globo

Em meio aos produtos brasileiros exportados para a China, o novo objeto de desejo é o popular jegue nordestino. Há cerca de um mês, um acordo entre os dois países liberou o intercâmbio de jumentos – também conhecidos como jegues ou asnos, utilizados na indústria chinesa de alimentos e cosméticos.
Os chineses pretendem importar 300 mil jumentos por ano do Nordeste, onde o animal é encontrado em abundância. Com as facilidades de financiamento, houve um crescimento muito grande do uso de motos para o transporte local e os jegues estão perdendo espaço no interior do Nordeste.
A China abate 1,5 milhão de burros ao ano. O processo envolve tecnologia de ponta, com melhoria genética, produção de alimentos específicos e assistência técnica.

* * *


NOSSA OPINIÃO

Em 1984 uma industria de charque de Belo Jardim-PE andou massacrando o nosso gangão e transformando milhares deles em charque para exportação. Era um absurdo a maneira desumana como a coisa era feita. Uma lei determinava que apenas animais velhos ou aleijados deveriam ser levados para este fim. Então, proprietários desalmados e os próprios motoristas e ajudantes das carretas que transportavam os animais se encarregavam de 'aleijar' os bichinhos atropelando-os na estrada ou quebrando suas pernas a pauladas. Agora que a motocicleta domina o sertão, a água encanada e o fogão a gás chegaram em todas as residências, o jumento, depois de 400 anos de contribuição ao desenvolvimento do Nordeste virou 'persona non-grata'. Em 1984, em parceria com o poeta Gonzaga Vieira, eu produzi um folheto (ainda inédito) intitulado "O massacre do jumento nordestino", que dizia mais ou menos assim:

O jumento nosso irmão
Cantado em prosa e verso
Que um dia transportou
O Autor do Universo
Vive hoje maltratado
Sendo até eliminado
Num atentado perverso.

Nos circos ou zoológicos
É comida de leão
Repasto de outras feras
É o nosso pobre irmão
Há tempos Luiz Gonzaga
Denunciava esta saga
Em inspirada canção.

Na fuga para o Egito
Jesus, José e Maria
Optaram pelo jegue
Por ser boa montaria
E a Família Sagrada
Viu-se assim transportada
Com conforto (sic) e garantia.

(...)





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Apenas R$ 15,00
Informações: acordacordel@hotmail.com

quinta-feira, 8 de março de 2012

DIA INTERNACIONAL DA MULHER


No dia internacional dedicado à mulher quero homenagear, em especial, àquelas que fazem parte da minha vida de maneira toda especial. Em primeiro lugar, minha avó ALZIRA DE SOUSA (VIANA) LIMA, que me alfabetizou com a ajuda de folhetos de cordel e fez parte da minha infância como uma das lembranças mais gratas que guardo em minha mente. Minha mãe, Hathane Viana, minha filha Mariana e minha companheira Juliana formam o `quarteto` das mulheres especiais que quero homenagear nesta data.
Na foto acima, uma homenagem a ALZIRA, cujo centenário de nascimento acontecerá em junho vindouro.

Também mando o meu abraço para todas as mulheres CORDELISTAS e todas as professoras que trabalham com a Literatura de Cordel na sala de aula. Parabéns pelo seu dia.

VEJA TAMBÉM:


Às Rosas, Dandaras, Olgas e Pagus que vivem em cada uma das mulheres!


À luta, mulheres! (Ilustração: Klévisson Viana)

* Artur Pires

Hoje, 8 de março, comemora-se o Dia da Mulher. Uma data para homenagear as mulheres foi pensada pela primeira vez em 1910, durante a Segunda Internacional Socialista, em Copenhague, na Dinamarca. Em 1917, no dia 8 de março, milhares de mulheres russas saíram às ruas para protestar contra a escassez e o alto o alto preço dos alimentos. Os protestos foram se avolumando nos dias seguintes e hoje são considerados o estopim para o início da Revolução Russa naquele mesmo ano. Quatro anos mais tarde, em 1921, o 8 de março foi oificalizado como o Dia da Mulher. Apenas em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a data oficialmente. À parte este contexto histórico, além de comemorar, o dia nos incita a refletir sobre as causas e os porquês das muitas barreiras que ainda impedem a igualdade de oportunidades entre mulheres e homens nas diversas esferas da sociedade.

No caso brasileiro, a cultura machista, que impera desde a formação do país enquanto nação e povo, foi a grande responsável pela manutenção da ordem social sexista e misógina por todos esses séculos. Infelizmente, o machismo ainda hoje continua no imaginário e na psique coletiva do nosso tecido social.

Devido a essa contaminação histórica na “alma” do povo brasileiro, a grande maioria dos homens reproduz, algumas vezes sem perceber e na maioria das vezes motivados pelo machismo que os faz acharem-se superiores às mulheres, conceitos e comportamentos sexistas, discriminatórios. Triste também é ver mulheres – sim, mulheres! – que endossam atitudes machistas contra elas mesmas, muitas vezes sem sequer atentar para o quão estão indo de encontro à própria causa.

A cultura machista do brasileiro, amparada por uma sociedade historicamente patriarcal, legitimou, ao longo dos séculos, e legitima ainda hoje, que muita discriminação e injustiças sejam cometidas contra as mulheres em nome da imposição de uma pseudo moral, na qual estas devem obediência – entenda-se subserviência – aos homens: “os donos da razão e da verdade”, sob pena de serem humilhadas, maltratadas, rejeitadas socialmente, e até mesmo espancadas e mortas, vide o alto número de feminicídio (crime cometido por um homem contra uma mulher a qual considera sua propriedade) no País.
 
VER TEXTO COMPLETO NO BLOG: www.impressoesmundanas.blogspot.com  do jornalista Artur Pires.

quarta-feira, 7 de março de 2012

JUAZEIRO DO NORTE REEDITA CORDEIS

José Lourenço é um dos autores das imagens que constarão nos livretos - FOTO: ELIZÂNGELA SANTOS
Clássicos do cordel no Cariri vão receber novas edições com desenhos dos melhores xilógrafos em atividade na região

Juazeiro do Norte - Os versos dos poetas do Cariri sobre a história e a religiosidade de Juazeiro do Norte ganharão capas de cordéis com xilogravuras produzidas pelos maiores nomes da arte contemporânea do Cariri. Serão dez xilógrafos que vão ilustrar 100 cordéis. O material faz parte de uma coleção que envolve 67 autores, sendo 27 clássicos. O trabalho seria lançado ainda durante a Semana Padre Cícero, que acontece este mês, durante a comemoração do aniversário do Padre Cícero, mas houve atrasos na confecção das xilos e na formalização dos direitos autorais. Os lançamentos fazem parte de projetos que foram desenvolvidos nas comemorações do centenário da cidade.
O mais interessante é que se deu ênfase à tradição para a produção das capas dos livretos. Todas as xilos foram produzidas na sede da histórica gráfica de cordéis Lira Nordestina, em Juazeiro. Os xilógrafos Stênio Diniz, Ailton Laurindo, José Lourenço, Cícero Lourenço, Francisco Correia Lima - Francorly, Antônio Dias, Nino, Cosmo Lemos e Cícero Vieira e Manoel Inácio talharam as peças na umburana, para dar mais durabilidade às matrizes. Um momento importante para os artistas que representam uma das expressões mais originais da terra do Padre Cícero.
Segundo o xilógrafo José Lourenço, um dos participantes do trabalho, essa tem sido a maior participação dos xilógrafos durante o momento histórico da cidade. Todas as matrizes trazem como temática a religiosidade, com história que contam em versos momentos marcantes da cidade, personagens, o milagre de Juazeiro, com a beata Maria de Araújo, as romarias da cidade e o que envolve a própria mística da fé nordestina.
Os xilógrafos foram contratados pelo Instituto Meta da Educação (Imeph) de Fortaleza, responsável pela edição e reedição dos folhetos. Segundo o coordenador executivo da Comissão e secretário de Turismo e Romarias, José Carlos dos Santos, para cada um foi dado um título e o conteúdo para que criasse a xilo ao seu critério, seguindo a linha do cordel.
"São dez pensamentos diferentes sobre Juazeiro e Padre Cícero e cada artista imagina as situações ao seu estilo", disse o poeta e xilógrafo José Lourenço.
Para ele, foi importante ter um número maior de artistas, para diferenciar o trabalho, já que os temas são muito parecidos. Quanto aos cordéis, José Carlos adiantou que serão 50 reeditados e outros 50 inéditos com prazo ainda indefinido para o lançamento da coleção.
A maioria dos cordéis pertence à Academia Brasileira do Cordel (ABC). O critério de escolha da maior parte dos livretos partiu da própria Comissão de Organização do Centenário de Juazeiro do Norte, que começou a planejar diversas publicações bibliográficas. Grande parte do acervo foi lançado no ano passado, durante a comemoração dos 100 anos da cidade. Serão distribuídos 100 mil cordéis entre instituições e os autores.
O processo de licitação para a confecção dos cordéis já foi realizado e custará R$ 95 mil, financiados por meio do Banco do Nordeste (BNB).
A impressão de 100 cordéis vai permitir um passeio pela história de Juazeiro do Norte, do Padre Cícero e das romarias.
A maioria dos poetas, autores dos cordéis clássicos, já faleceu. Segundo o secretário, esse é um incentivo à produção poética, ao mesmo tempo homenageando os autores que escreveram sobre a terra de Padre Cícero, que ainda festeja seu centenário.


Mais informações:
Memorial Padre Cícero
Secretara de Turismo e Romaria
Praça do Cinquentenário
Juazeiro do Norte (CE)
Telefone: (88) 3511.4040


ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste - 07/03/2012

terça-feira, 6 de março de 2012

LANÇAMENTO NO MIS


Poeta PAULO DE TARSO lança cordel
sobre o centenário de Gonzagão

Sexta-feira, 18h, no Museu da Imagem e do Som


Sua participação
Me deixará bem feliz,
Pois além dos bons postais
Terão versos pra Luiz,
O menestrel Gonzagão,
Maior nome do sertão,
Em mais um cordel que eu fiz.
(Paulo de Tarso)

domingo, 4 de março de 2012

O MORAL DA SEXTILHA

Xilogravura de Erivaldo

Lançada pela editora Global, a Antologia do Cordel Brasileiro reúne obras de clássicos e contemporâneos do gênero que atravessa bom momento no mercado editorial
Organizada pelo poeta Marco Haurélio, a Antologia do Cordel Brasileiro, lançada pela editora Global, compila 15 obras de autores brasileiros de diferentes épocas, desde textos de poetas do século XIX e começo do XX, até cordelistas contemporâneos nascidos entre 1956 e 1974 – entre estes últimos, além do próprio organizador baiano, estão incluídos os cearenses Klévisson Viana, Arievaldo Viana, Rouxinol do Rinaré e Evaristo Geraldo da Silva.

Quem abre a antologia é Leandro Gomes de Barros. Um dos maiores poetas populares do Brasil, considerado pela qualidade dos seus versos, a produção prolífica e o pioneirismo, Leandro nasceu em Pombal, na Paraíba, em 1865, e morreu em 1918 na capital pernambucana, depois de publicar uma série de clássicos em folhetos. A vida de Pedro Cem, Peleja de Manoel Riachão com o diabo e O cavalo que defecava dinheiro estão entre suas obras célebres.

Na antologia, o texto de Leandro incluído foi O soldado jogador, que conta a história de Ricarte, soldado francês apegado ao baralho que, ao ser preso acusado de jogar durante a missa, escapa do castigo com uma explicação divina para cada uma das cartas.

Há registros da história de Ricarte em outros países, como na Espanha e na Argentina. No Brasil, o folclorista Câmara Cascudo recolheu o conto no livro História Oral no Brasil, como informa na introdução o organizador.

O recurso de recontar histórias imemoriais é muito frequente entre os cordelistas e na antologia pode ser encontrada em outras obras mais recentes, como a escrita pelo cearense Klévisson Viana, 39, que assina Pedro Malasartes e o urubu adivinhão. A história – que também foi recolhida por Câmara Cascudo, desta vez no livro Contos Tradicionais do Brasil – chegou aos ouvidos de Klévisson ainda na infância. O fascínio pelos causos e a tradição familiar de produzir poetas fez do menino cordelista.

“O meu pai conta que o meu bisavô já era poeta e tinha um caderno de anotações. Ele escreveu inclusive um romance contando a história de um boi misterioso, tipo um boi mandingueiro. Ele sempre gostava de receber os amigos com uma glosa também. A mãe do meu pai era uma pessoa que gostava muito de literatura de cordel, tinha muitos folhetos em casa. E meu pai é um poeta que nunca publicou nada, mas ele tem um talento extraordinário”, conta Klévisson.

A linhagem não parou por aí. O irmão Arievaldo Viana também enveredou pelo cordel e publica na antologia O rico ganancioso e o pobre abestalhado. Os dois, naturais de Quixeramobim, figuram na obra ao lado de outra dupla de manos do Sertão Central: Rouxinol do Rinaré e Evaristo Geraldo da Silva - estes filhos de Quixadá.

“Vem desde infância. Não tinha televisão, né, a diversão era a leitura do cordel”, conta Antonio Carlos da Silva, o Rouxinol do Rinaré. O cordelista, que homenageia no nome artístico o pássaro de canto melodioso e sua terra, certa vez assumiu o papel do irmão mais velho de leitor e tomou gosto. Hoje, já publicou mais de 80 cordéis e cinco livros. Na antologia, assina O Reino da Torre de Ouro. O irmão mais novo, Evaristo, também está incluído com os versos de O Conde Mendigo e a Princesa Orgulhosa.


SERVIÇO

Antologia do Cordel Brasileiro
Organização: Marco Haurélio
Editora: Global
Páginas: 256
Preço: R$ 37

Texto: PEDRO ROCHA - Fonte: Vida & Arte (O POVO)