sábado, 17 de setembro de 2011

O DISCO DA SEMANA

Compacto duplo- Baiano e os Novos Caetanos


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Esse compacto é da célebre dupla “Baiano e os Novos Caetanos”, formada por Arnaud Rodrigues e Chico Anísio, são as mesmas gravações do álbum gravado, ao vivo, em 1974.
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Arnaud Rodrigues se foi de maneira trágica, num acidente de barco na barragem de Palmas-Tocantins. O cearense Chico Anysio continua lutando pela vida, com as bênçãos de São Francisco. Em meados da década de 1970, no auge do humorístico Chico City, Chico e Arnaud gravaram discos excelentes, com instrumental apurado e canções marcantes. Há quem diga que as letras eram todas do Arnaud, o cérebro da dupla, que concebia as piadas e sacadas inteligentes, já para o Chico ficava a parte da interpretação, dando vida e personalidade as idéias de Arnaud... Isso não é verdade, Chico Anysio é também, além de grande comediante, um excelente redator e bom letrista. Afinal de contas não se pode negar que Chico Anysio começou a carreira de compositor bem antes, ainda na década de 1950, compondo para ninguém menos que Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.

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Destaque para “Urubu tá com raiva do boi” de Geraldo Nunes e Venâncio e para “Folia de Rei” de Arnoud Rodrigues e Chico Anísio. Esta última ganhou também uma bela versão do cantor Sérgio Reis.

Compacto duplo – Baiano e os Novos Caetanos
1975 – CID

01 Folia de rei (Arnaud Rodrigues – Chico Anísio)
02 Urubu tá com raiva do boi (Geraldo Nunes – Venâncio)
03 Ciranda (Adapt. Arnaud Rodrigues – Chico Anísio)
04 Véio Zuza (Arnaud Rodrigues – S. Valentim – Chico Anísio)

Para baixar esse disco, clique aqui.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

CORDEL EM QUADRINHOS

O exército da narrativa

Ilustrações de Eduardo Azevedo para o poema de Leandro Gomes de Barros, A Batalha de Oliveiros com Ferrabrás

Clássico do cordel, "A Batalha de Oliveiros com Ferrabrás", de Leandro Gomes de Barros, ganha versão em quadrinhos por dupla cearense. Klévisson Viana e Eduardo Azevedo lançam o livro hoje, na II Feira do Livro Infantil de Fortaleza


Há mais de um século, quando o poeta paraibano Leandro Gomes de Barros (1856 - 1918) escreveu "A Batalha de Oliveiros com Ferrabrás", a história do embate entre o guerreiro cristão e o mouro já era antiga. O conto integra o conjunto de narrativas em torno da figura do rei francês Carlos Magno. O relato das aventuras (mais literárias que históricas) do destemido rei e de seus fieis cavalheiros chegou ao Brasil com os colonizadores europeus e se disseminou no interior no País. No Nordeste, encontrou solo fértil e ganhou tons próprios, a se moldar à voz e à imaginação de quem a narrava.

A nova aventura desta história, que desafia o tempo e conquista suportes de leitura, é uma versão em quadrinhos. O projeto é assinado por Klévisson Viana, poeta cordelista, ilustrador e quadrinhista, e Eduardo Azevedo, ilustrador que estreia como quadrinhista neste álbum. O trabalho da dupla foi um dos ganhadores da categoria Luiz Sá (HQ), do Prêmio Literário para Autores Cearenses 2010, da Secretária da Cultura do Estado (Secult). O álbum será lançado, amanhã, às 17h30, na Praça do Ferreira, integrando a programação da II Feira do Livro Infantil de Fortaleza, que acontece até sábado, no local.

O poeta paraibano baseou-se numa versão escrita do conto, encontrada em "História de Carlos Magno e os Doze Pares de França" (1863), do padre e médico militar português Jerônimo Moreira de Carvalho. Narrada em versos heptassílabos por Gomes de Barros, entremeou-se ainda mais no repertório da tradição popular. O original ganhou sucessivas edições, impossível de precisar quantas, e recontado por outros autores da literatura de folhetos.

Na adaptação para a linguagem das HQs, a proposta foi manter-se fiel ao clássico. Klévisson selecionou os versos e os converteu em balões e caixas de texto para acompanhar os belos desenhos de Azevedo.


QUADRINHOS
" A Batalha de Oliveiros com Ferrabrás"
Leandro Gomes de Barros, Klévisson Viana e Eduardo Azevedo
R$30 - 48 páginas
2011 - Tupynanquim
Lançamento às 17h30, na Praça do Ferreira, na II Feira do Livro Infantil de Fortaleza.
Programação gratuita.
Contato: (85) 3464 3108

DELLANO RIOS - EDITOR  (Caderno 3 - Diario do Nordeste)

"BATALHA DE OLIVEIROS COM FERRABRAS" e "PAVÃO MISTERIOSO" EM QUADRINHOS.
ENVIAMOS PELO CORREIO PARA QUALQUER PARTE DO BRASIL
Maiores informações:  acordacordel@ig.com.br

Obra-prima de Geraldo Amancio


A HISTÓRIA DE ANTONIO CONSELHEIRO


No dia em que estive na TV Diário, gravando minha participação  no programa "Ao Som da Viola", de Geraldo Amancio, não imaginei que ganharia presente tão valioso como o livro "A História de Antonio Conselheiro", de autoria do próprio Geraldo.


São 128 páginas nas quais se distribuem dezenas de estrofes em setilhas, formadas de versos ricos em rimas e perfeitos em métrica. O conteúdo, então, é um verdadeiro monumento, contando detalhadamente a história desse herói do sertão nordestino, tal pouco conhecido de todos nós.


A obra de Geraldo Amancio é realmente m show de métrica, rima e oração. Pra completar, juntam-se aos versos as ilustrações do Kazane (todas coloridas) e o belo trabalho gráfico feito pelo pessoal da editora IMEPH.


Antes de apresentar algumas estrofes do cordel - que é realmente um livro - transcrevo palavras do Professor Batista de Lima sore a obra:


Muito já se escreveu sobre Canudos. Afinal, ali se concretizou a maior tragédia brasileira. Calcula-se que em torno de 25 mil pessoas tiveram suas vidas ceifadas naqueles sertões da Bahia. O arraial destruído chegou a ter uma população de 30 mil pessoas o que o levou ao patamar de segundo maior aglomerado humano do estado, perdendo apenas para a capital, Salvador. Pois a destruição foi total, além da morte de 20 mil sertanejos e 5 mil soldados.


O mais famoso relato sobre o episódio é creditado ao livro "Os Sertões", de Euclides da Cunha, mesmo sabendo-se que sua visão dessa saga é de fora para dentro, já que o mesmo era repórter de "O Estado de São Paulo" e fez a cobertura da guerra do lado militar. Falta, no entanto, uma obra que conte a história vista do lado dos sertanejos, de dentro para fora. Mesmo não havendo algo desse nível, há relatos dos acontecimentos que são acreditados pelos leitores. É o caso, por exemplo, do cordel "A história de Antônio Conselheiro", de Geraldo Amâncio.


Geraldo Amâncio Pereira nasceu no sítio Malhada de Areia, no município de Cedro-Ceará, em abril de 1946. Há 47 anos canta ao som da viola. Já gravou 15 CD´s e há 17 anos apresenta um programa de cantoria, na televisão. Também pesquisa sobre cantoria, já tendo publicado duas antologias em parceria com o poeta e jornalista Wanderlei Pereira. Para transformar esse seu novo cordel em um produto de boa aceitação, ele publicou em livro de bela feitura, ilustrado pelo artista plástico Kazane. Assim é que se tem uma obra de arte sobre o sangrento episódio.


A sua pesquisa sobre a saga de Canudos vem apresentada em 283 septilhas, todas em redondilha maior, com rimas nos versos 2, 4 e 7 além de também rimarem o 5 e o 6. Ao todo são 1981 versos metrificados o que perfaz um contingente de 13.867 sílabas poéticas. Isso leva à conclusão de que foi um trabalho de fôlego, tanto na sua elaboração poética como na pesquisa que foi encetada, tendo em vista que os fatos apresentados, bem como o elenco de personagens são absolutamente fidedignos.


A Editora Imeph produziu esse material em 128 páginas, em 2010, trazendo como prefaciador o médico e poeta Luiz Dutra. Os comentários auriculares são do escritor Oswald Barroso. Enquanto Luiz Dutra se ocupa da apologia ao Conselheiro, Oswald faz a ponte entre o messias de canudos e o Geraldo romeiro do Padre Cícero Amâncio. São dois textos à altura da elaboração poética que analisam. É tanto que a certa altura do Prefácio o leitor é alertado para o fato de que o Presidente da República que era Prudente de Morais, nada tinha de prudente. Prova disso é que a destruição de Canudos foi um erro pelo qual ainda pagamos. (O restante do artigo de Batista de Lima pode ser visto em  http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1006238).



Seguem trechos de 


A HISTÓRIA DE ANTONIO CONSELHEIRO
(Geraldo Amancio)


Conselheiro foi um homem
De espírito combativo.
Obstinado e valente,
Decidido e combativo.
Com tanta sabedoria
Conselheiro merecia
Por mil anos ficar vivo.


Do homem cresce o valor
Quando a história compara.
O Brasil tem a mania
De enaltecer Che Guevara
Talvez por ser estrangeiro.
Nosso Antonio Conselheiro
Foi uma jóia mais rara.


(...)


Montou primeiro um comércio
Para comprar e vender.
No magistério ensinava
Ler, contar e escrever.
E no foro trabalhava,
De toda forma buscava
Meios pra sobreviver.


Em qualquer trabalho tinha
Bravura e muita coragem.
Porém, Euclides da Cunha
Denegrindo a sua imagem
De uma maneira mesquinha
Diz n’Os Sertões que ele tinha
Tendência pra vadiagem.


(...)


Com o padre Ibiapina
Muitas lições aprendeu.
Esse sim, amou os pobres,
Do que tinha ofereceu.
Angariou donativos...
“É melhor dar pão aos vivos
Do que chorar quem morreu”.


Antonio tornou-se arauto
Dos sem pátria, dos sem nome.
Sabia ouvir o sussurro
Da multidão que não come.
Uniu sua mágoa a eles,
Porque também era um deles
Conhecia a dor da fome.


(...)


Conselheiro interpretava
A Bíblia à sua maneira.
Não obedecia a bispo,
Nem a padre, nem à freira.
Se ainda existisse a mão
Da tal Santa Inquisição
Seu destino era a fogueira.


Com isso, logo alguns padres
Mostraram-se intolerantes
Dizendo que as leis da Terra
Tinham de ser como antes:
Que o cobre se desse ao nobre,
Tinha que haver rico e pobre,
Os mandados e os mandantes.


(...)


Naqueles sertões desertos,
De esquisitos carrascais,
Multidões embevecidas
Ouviram sermões de paz
Do maior dos conselheiros.
Isso para os fazendeiros
Era incômodo demais.


(...)


Dizem que de Thomas Morus,
Ele leu a “Utopia”.
Uma classe igualitária,
Era o que ele queria.
Sem ambição, sem engodos,
Sendo tudo para todos,
Vivendo em santa harmonia.


Aí rumou para o Norte,
Em penosa caminhada.
Chegando assim em Canudos,
Uma terra abandonada,
Buscou água, encontrou fonte,
E a cidade Belo Monte
Ali seria fundada.


Nesse chão morou um povo
De estranha obsessão.
Fumava cachimbos longos
Quase um metro de extensão.
Eram canudos de pito,
Do nome meio esquisito
Batizaram a região.


(...)


Todos que eram errantes,
Perseguidos, humilhados, 
Foragidos da justiça,
Eternos injustiçados,
Teriam sim, acolhida
Nessa terra prometida,
O céu dos desamparados.

Extraído do blog MUNDO CORDEL, do poeta MARCOS MAIRTON

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O GRANDE DEBATE

INFLUÊNCIAS IBÉRICAS NO CORDEL
 NORDESTINO... EXISTEM OU NÃO?

Novas Cantorias - Manoel e Maria com João Zero


 
Uma interessante e produtiva “polêmica” movimentou o mundo do cordel na semana passada, no blog do poeta Varneci Nascimento. O debate foi protagonizado, principalmente, pelos poetas Prof. Aderaldo Luciano e Arievaldo Viana. Debate saudável, diga-se de passagem, pois ambos são bons amigos. Houve opiniões também de Gerson Lopes e Aldy Carvalho que são interessantes registrar. Afinal de contas, há ou não influência da poesia ibérica no romanceiro popular nordestino? Leiam o debate e tirem as suas conclusões...
IMPRESSÕES SOBRE O I FÓRUM DE SÃO PAULO

Prof. Aderaldo Luciano, Varneci Nascimento e Dra. Jerusa Pires Ferreira

Se alguém perguntar a um poeta quem é o pai do cordel, a resposta é taxativa: Leandro Gomes de Barros. Se a conversa parar por aí você fica convencido, mas se insistir onde nasceu essa literatura, o poeta se trai dizendo que foi em Portugal por volta do século XVII. Mas como pode ter sido lá se Leandro não é desse tempo e nunca esteve em Portugal. Essas questões sempre me intrigaram, afinal Leandro é um paraibano e não um europeu, daí como foi conceber o cordel além mar?
Quando doutor Aderaldo Luciano, defendeu em sua tese que só herdamos dos portugueses a palavra cordel, e começou a expor seu pensamento, alguns poetas discordaram dele, que continuou expondo sua tese baseado em pesquisas. No fórum voltou a tocar nesse assunto, afirmando que o cordel produzindo em qualquer outra parte do mundo é cordel apenas no formato do folheto, mas não na forma de escrever. A professora doutora Jerusa o interrompeu e disse que era exatamente isso, citado como exemplo os cordéis que ela viu na Índia.
Ou seja, nós herdamos esse nome por causa do suporte, mas não pela poesia. No fórum confirmou-se aquilo que tantas vezes vi o poeta João Gomes de Sá afirmar nas palestras que fizemos, que em Portugal é chamado cordel tudo que se pendura em um barbante, ou seja uma receita de bolo, piada, conto, jograis etc.
Houve uma simbiose na fala da professora Jerusa com a do Aderaldo. Não sei porque tantos poetas e pesquisadores insistem que é o nosso cordel é o mesmo daquele produzido na Europa. Alguns vão mais longe dizendo que o cordel estava presente na idade média? Quem faz tal afirmação, deveria ter a coerência intelectual de assumir que dessa forma, Leandro não é o pioneiro do cordel. Todavia alguns fazem certas afirmações para agradar e não discordar do que muitas vezes, está posto, erroneamente, e assim se confirma um adágio que “uma mentira repetida várias vezes se torna uma verdade”. Foi o que fizeram com o cordel dizendo que veio de Portugal.
Por isso temos de tirar o chapéu e agradecer a esses dois estudiosos doutora Jerusa e doutor Aderaldo pela coragem que tiveram de expor aquilo que pesquisaram indo de encontro as verdades estabelecidas equivocadamente.

Folheto de cordel português: o mesmo suporte,
a mesma métrica, a mesma feição gráfica...

COMENTÁRIOS

Em 8/09/2011, às 08:10:54, ARIEVALDO VIANA | página pessoal disse:
Gostaria apenas de lembrar que tanto em Portugal, quanto na América Espanhola (México, Chile, Argentina) também se produziu o cordel em versos, utilizando a quadra (principalmente) a sextilha e os motes glosados em dez pés. Isto é um fato e contra fatos não há argumentos. LEANDRO é o pioneiro da literatura popular em versos no Brasil - o chamado ROMANCEIRO NORDESTINO, que, queiram ou não, recebeu influencias do cordel europeu. Há como negar isto, diante de histórias como Carlos Magno e os Pares de França, Pedro Cem, Princesa Magalona, Imperatriz Porcina etc.? E o Cego Baltazar Dias, da Ilha da Madeira? E os trovadores da Lyra Popular Chilena?
Concordo com Aderaldo e Dra. Jerusa em parte... o tipo de poesia popular produzido no Nordeste brasileiro é único, diferente de tudo que foi feito noutras partes do mundo, mas nem por isso podemos negar as influências ibéricas.
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Em 8/09/2011, às 20:37:29, Gerson Lopes de Araujo | e-mail disse:
Não estou aqui para criticar nem desafiar conhecimentos pois ainda sou um embrião no cordel mas pelo pouco que tenho lido nas consultas que fiz eu tenho mais que concordá com Arievaldo viana, e pois se o nósso amigo e conterraneo Leandro Gomes de Barros é mesmo o pai do cordel, e porque existe cordeis em lugares em que eli nem andou?
E as vezes ate mesmo antes de ele ter nascido?
Com esses desncontros de informacões eu fico em situacão porque as vezes eu vou em escolas falar da obra que estou escrevendo. E quando alguem me perguntar sobre á verdadeira origem do cordel o que vou dizer? pois eu ate concordo que haja desencontro de informacões maz não dentro da mesma cultura. Tem que haver um acordo, pois do contrario fica dificil de se explicar a essa\ gente desinformada que nós temos todos carentes de informacão:
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Em 9/09/2011, às 00:33:40, Aderaldo Luciano disse:
Eu havia decidido que não comentaria mais nos blogs e fotologs, mas fui citado. Os cordelistas de São Paulo estão protagonizando o melhor momento do cordel no Brasil: a discussão estética, a reflexão teórica, a revisão histórica. Acredito mesmo que esse seja o caminho natural para os outros rincões do Brasil. Já fico contente e satisfeito em ver que nessas discussões o termo "literatura de cordel" aos poucos vai cedendo espaço apenas para "cordel". É um avanço. Faço algumas perguntas aos meus antagonistas (em termos intelectuais, fique claro, pois respeito e gosto de todos), mas faço as perguntas: o que é o cordel brasileiro? Quem o fez e faz? Tem forma esse cordel? É rígida essa forma ou deixa se malear ao bel prazer do poeta? As sextilhas têm que ser rimadas, em rimas alternadas ou se pode colocar uma sextilha sem qualquer rima no cordel? Existe um cordel em prosa? Se um poeta, utilizando a técnica do cordel escrever apenas 5 sextilhas e chamar de cordel nós aceitaremos? Dêem-me os títulos de 200 obras adaptadas do cancioneiro ibérico? E mesmo se me derem, essa produção diante dos 20 mil títulos de cordel já escritos em 100 anos, no Brasil, determinará o quê? A louvável coleção Clássicos em Cordel, dirigida por Marco Haurélio, a mais bem sucedida em todos os tempos, porque de qualidade e ininterrupta, já adaptou bom número de obras universais e chegará, espero, aos 100 títulos (já tem vinte). Ela vai determinar uma dependência do cordel? Se me responderem essas perguntas, encontrarão uma saída. Agora, entenda-se: toda vez que se fala em influências ibéricas, recorre-se invariavelmente a Carlos Magno, Teodora, Porcina, Magalona, Pedro Cem, João Soldado e fica-se aí, na solidão. Todos foram adaptados para o cordel brasileiro, mas se isso aconteceu é porque o cordel preexistiu a eles em forma. Como disse Cascudo, foram vertidos para as sextilhas do cordel. E saibam que todos eles foram publicados originalmente em sua forma no Brasil. Circularam como eram na Europa.
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Em 9/09/2011, às 00:46:56, Aderaldo Luciano disse:
Circularam e profusamente. O poeta de cordel, citemos Leandro, apaixonado pela trama recontou-os em cordel. Aconteceu com os contos folclóricos, acontece com clássicos da literatura brasileira. Todos recriados na forma clássica do cordel. Agora, a quadra é ibérica, a sextilha é ibérica, a setilha é ibérica, a décima é ibérica. Mas se responderam às perguntas feitas verão que a aura que definirá o que é o cordel exigirá não um amontoado de estrofes contando uma história (como o faz o poema matuto), pois bem o cordel quer mais. As influências ibéricas no cordel são as influências de todo motivo universal. Daqui a pouco será lançada a Divina Comédia, de Dante, em cordel. Dirão que o cordel tem influência da renascença italiana? Ah, mas Arievaldo Viana recontou Luzia-Homem. Dirão que sofre influência do Naturalismo brasileiro? Peraí, recontaram Chapauzinho Vermelho e Branca de Neve, terá influências dos Grimm, de Perrault, de La Fontaine. Claro que tem, são os motivos da literatura universal. O cordel é uma forma poética consequentemente dialogará com todos e se afastará de todos porque tem vida própria. Por último: é preciso passar o que nos disseram a tanto tempo a limpo. Tenhamos coragem de ler e discutir como São Paulo o está fazendo!
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Em 9/09/2011, às 09:08:11, ARIEVALDO VIANA | página pessoal disse:
Os poetas mais antigos, Manoel D'Almeida Filho e Joaquim Batista de Sena, principalmente, rejeitavam com veemência o rótulo "Literatura de Cordel" e abominavam o termo "cordelista", preferindo ser chamados de 'poetas populares', "trovadores" ou "poetas de bancada". E, dentre as razões citadas, diziam que o romanceiro popular em versos tinha identidade própria no Nordeste, porém não negavam as influências vindas d'além mar. É inútil ignorar essa influência, ela está infiltrada nas raízes mais profundas da poesia popular nordestina, não apenas nas histórias adaptadas, mas na forma de escrever e cantá-las... Que são são os cantadores de hoje, senão os menestréis e jograis do passado? Existe uma árvore frondosa, cujo tronco e raízes se chamam TROVADORISMO... Foi daí que surgiram as ramificações: cantoria, aboio, embolada, chula, pagode, calango, cururu, poesia matuta, cordel e até mesmo o rap.
Ninguém nega que os poetas nordestinos foram os mais inspirados e prolíficos, com mais de 30 mil titulos lançados. Mas ninguém pode negar que a Lyra Popular Chilena, por exemplo, tinha excelentes poetas contando histórias em sextilhas, setilhas e motes de dez pés. Não nego a grande contribuição do movimento paulista para renovação do cordel, mas não posso simplesmente omitir o trabalho grandioso e consistente de renovação do gênero feito pelo pessoal do Ceará (e também Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco). Se eu não puxar brasa para nossa sardinha, quem o fará?
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Em 10/09/2011, às 08:29:23, Aderaldo Luciano disse:
Qualquer pesquisador de bom senso jamais negará essa influência de além-mar, mas, por ter bom senso, obrigatoriamente saberá discernir um produto português ou espanhol do nosso. Não se pode assemelhar porque não existe a semelhança. A única coisa que existe é o motivo, mas o motivo é universal e, sendo universal, não tem pátria. O contador de histórias mais conhecido do mundo foi um cego grego chamado Homero, este, sim, pai de tudo que veio. Foi anterior a Cristo ne fundou toda a literatura ocidental contando as lendas e as façanhas dos heróis gregos. Começava a contar suas histórias pla manhã e se prolongava até à noite, sempre em tempo real. Mas ele não se assemelha aos nossos poetas. A prática é diferente. Outra coisa, todas as manifestações poéticas do novo mundo aassemelhadas ao cordel são também outros produtos regionais, algumas até são o prolongamento do cancioneiro ibérico, mas quando comparadas ao cordel não encontrarão sustentação em seu sistema de criação e divulgação, mas isso é outro estudo. Quanto ao Trovadorismo, ele não é o pai de tudo. É um tronco que, pelo estudo e observação, sediará alguns elementos, mas não será o pai de todos. Os índios brasileiros, e americanos no geral, detinham um forte cancioneiro sem nunca terem conhecido o trovadorismo, leiamos a experiência dos nossos cronistas e viajantes (Jean de Lery, Gabriel Soares de Souza, Hans Staden, Fernão Cardim e outros citam essas manifestações), até Montaigne recita canções indígenas em plena França. A cultura afro também irrigou nossas histórias sem saber desse trovadorismos. Então, ele não é tudo. É um pouco. Lembro também que contadores de história e poetas itinerantes existiram em todas as sociedades e em todos os tempos. No Japão e na China, na Bulgária e nos Países Baixos. A história está repleta de suas indicações. Nossos contadores e poetas estão amarrados a esse todo universal porque tudo faz parte da alma humana de gostar de ouvir e contar histórias.
Tanto gostavam de contar histórias e influenciar a plateia que Platão os queria longe de sua República pois temia que os soldados fossem atemorizados por monstros mitológicos.

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Em 11/09/2011, às 21:23:25, Aldy Carvalho | e-mail disse:
Ainda vou ouvir mais até dizer minha “dizida” mas os pontos de confluência entre os dois contendores é que são, a meu ver, mais importantes para as reflexões e esclarecimentos.
Parece-me que os pontos discordantes partem do não entendimento do que um e outro, outro e um querem determinar. Ao que entendi o prof Aderaldo não disse em momento algum que não há influências..., e nem poderia, ele as cita em sua tese já esplanada em algumas ocasiões. O que ele tem defendido é que o Cordel, como configurado, no Brasil, é único, portanto, dessa forma, eminentementebrasileiro.
Toda a polêmica, ao que parece, se inicia e se estende por conta do nome Cordel, pois que antes de tudo isso (a polêmica), como já foi dito, visto, a partir de um ponto de partida, este, lá longe, era tudo "folheto", "verso", "Literatura de Cordel" "romance", "folheto de trovador" além de nomes diversos nos outros países - como por ex "Colportage, Canards" na França -onde o gênero "poesia popular impressa", "livreto”, “folheto”, “volante" já eram e ainda continuam , escassamente, publicados. O gênero "folheto", "verso", "cordel", passou a chamar mais atenção, inclusive de literatos, e de uma gama mais instruída da sociedade brasileira a partir de artigo publicado por Origenes Lessa em 1955.
Encontramos citações em ensaios, crônicas, matérias diversas para jornais e revistas sobre o assunto da seguinte forma: "...Essa literatura popular impressa existiu em diversos países. É no Brasil que essa produção popular persiste." "...essa literatura popular tem parentes entre os lusos."
Essa ainda, como disse, não é a minha dizida, mas posso afirmar que o Cordel nosso está vivinho da silva, inovando e possibilitando novas inserções, discussões, diáldiálogos, pesquisas.
"Cordel" é uma denominação de Academia incorporada pelos "autores populares", e daí também o neologismo "cordelista"?
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Em 12/09/2011, às 06:41:03, ARIEVALDO VIANA | página pessoal disse:
Meu caro Aderaldo, o pior cego é o que não quer ver. O amigo há de lembrar que desde o início eu afirmo que a poesia popular nordestina tem um formato único, definido, assim como os corridos mexicanos têm as suas peculiaridades, como a Lyra Popular Chilena tem as suas etc. etc. Ouça um desafio em sextilhas ou setilhas entre o cantador gaúcho Teixeirinha e sua parceira Mary Terezinha e me diga se não há a mesma métrica, a mesma oração e o mesmo esquema de rimas do cordel e da cantoria nordestina? Essa história de Homero é interessante, mas você esquece Salomão e os profetas bíblicos que também fizeram salmos em poesia. É a velha história do OVO E DA GALINHA... Quem nasceu primeiro? Me diga?
Repito: os "corridos mexicanos", a trova gaúcha, a "lyra popular chilena" e o romanceiro popular nordestino todos tiveram a mesma matriz: a TROVA IBÉRICA! Que talvez tenha bebido nas fontes de Homero, nos lamentos árabes (olha o alaúde entrando na conversa) e assim por diante...
Corrido Mexicano em versos, prova incontestável da tradição ibérica

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

CORDEL NO RIO DE JANEIRO


A moça de lílás (na platéia), com bolsa de couro, é a designer Adriana Bertolla, responsável
pelo projeto gráfico da coleção. Vem aí 'O ganso de ouro', o próximo lançamento.

Mais fotos do lançamento da coleção "Era uma vez... em cordel" (Globo Livros) na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 10 de setembro de 2011. A feira teve um de seus dias mais concorridos neste sábado. Logo após o nosso lançamento, foi a vez do jornalista Maurício Kubrusly lançar seu novo livro sobre suas andanças pelo Brasil. No domingo, o estande da Editora Globo recebeu Mauricio de Sousa e os personagens da Turma da Mônica. Outra presença constante no espaço foi o cartunista Ziraldo, lançando livros digitais do Menino Maluquinho e da Professora Maluquinha. É o cordel conquistando seu espaço e sendo mostrado nas maiores feiras de livros do país.

Arievaldo e Jô Oliveira em seção de autógrafos


Declamando trechos de "O coelho e jabuti"

5 MESES NO AR

O blog "Acorda Cordel' completa hoje (12 de setembro) 5 meses de atividades, com postagens quase que diárias e uma média de 8 mil visitas por mês. Temos mais de 80 seguidores e a marca invejável de mais de 40 mil visitantes ao longo desse período, muitos dos quais do exterior: Portugal, Alemanha, França, Bélgica, Estados Unidos etc.
Obrigado a todos!

SUCESSO TOTAL!



Crédito das Fotos - Página do FACEBOOK da Globo Livros

Lançamento da coleção "ERA UMA VEZ...
... EM CORDEL" (Bienal do RJ)
Maurício de Sousa, com um livro da dupla Arievaldo/Jô Oliveira

O lançamento da coleção "Era uma vez... em cordel", na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, foi sucesso total. Pelo estande da editora Globo passaram Ziraldo, Mauricio de Sousa, Padre Marcelo Rossi e... a dupla Arievaldo Viana e Jô Oliveira, dentre outros. Excelente acolhida do pessoal da editora, sobretudo das amigas Luciane, Adriana Bertolla, Kelly, Fernanda Rosemberg e do amigo Luiz Antônio, uma grande figura, que ficou empolgado com o nosso trabalho. Mais tarde, quando Jô mandar as fotos do lançamento, conto mais detalhes!



NA BIENAL DE PERNAMBUCO

No dia 07 de outubro de 2009 estive participando de uma "mesa redonda" na Bienal do Livro de Pernambuco, sobre Literatura de Cordel na Escola. Participaram também Tarciana Portela, Igor, da Editora Coqueiro e o poeta José Honório, do movimento Unicordel.
Eis uma matéria publicada no site do MINC sobre a referida palestra:

Literatura de Cordel na Bienal de Pernambuco (2009)

RRNE/MinC promove debate sobre o segmento na VII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco

A VII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco reuniu, na tarde da última segunda-feira, 5 de outubro, no Auditório Carlos Pena Filho, no Centro de Convenções, em Olinda, um público interessado no debate em torno da Literatura de Cordel.  Na mesa ‘A Hora e a Vez do Cordel’ estavam presentes Tarciana Portella, chefe da Representação Regional Nordeste do Ministério da Cultura; Arievaldo Viana, cordelista; José Honório da Silva, da Unicordel e o diretor da Editora Coqueiro, Igor Santos.
Tarciana Portella comentou a importância desse tipo de debate para dar continuidade ao processo iniciado em maio deste ano, quando foi realizado, em Brasília, o 1º Encontro Nordestino de Cordel. Na ocasião, cordelistas de todo o país estiveram reunidos para discutir propostas para o segmento, como a necessidade de aquisição de folhetos de cordel para composição de acervo das bibliotecas públicas (MinC/MEC), a busca pela regulamentação da profissão de cordelista e a possibilidade de se produzir um programa na TV Brasil, sobre Cordel, em cadeia nacional.
O cordelista cearense Arievaldo Viana comentou que foi alfabetizado com os livretos de Cordel e que a sua avó recitava poesias incansáveis vezes, sem saber que, no futuro, estaria formando um novo artista popular.  Arievaldo, conhecido como Quixote do Letramento, comentou que “há 10 anos vive numa cruzada para divulgar a literatura de Cordel em vários estados”.
Para incentivar o consumo dos livretos nas escolas, a aposta de Arievaldo é editar cordéis no formato de cordelivro, “mais atraente para as crianças, pois dessa forma é mantida a tradição do conteúdo (métrica, rima e cadência), numa edição ilustrada, em cores, mais moderna”.
Um dado curioso chamou a atenção dos participantes do evento. Arievaldo informou que existem na Biblioteca do Senado americano mais de 10 mil títulos de literatura de Cordel. “Eles nos disseram que queriam conhecer a produção das camadas populares da cultura brasileira”. A queda das Torres Gêmeas, em 11 de setembro, nos Estados Unidos resultou, aqui, na confecção de 38 folhetos sobre o tema. “Já contabilizamos mais de cinco mil artistas em atividade no Brasil; existe a história oficial, e a história paralela, a que é contada por nós cordelistas”, finalizou Arievaldo.
Dando continuidade ao debate, José Honório da Silva, representante da Unicordel (PE), enfatizou a questão da tecnologia à serviço da produção de Cordel. “Não devemos nos preocupar com a forma como se imprime um livreto, devemos aproveitar a democratização do acesso à tecnologia e imprimir literatura de Cordel, estimulando e fomentando a produção”.

(Rose Andrade, Ascom RRNE/MinC)